terça-feira, 30 de outubro de 2012

Lutando contra o Câncer



Quando eu era pequena e minha mãe subia na laje da vizinha para estender roupa eu ficava em pé na lavanderia espiando até ela descer, nessa época eu chamava ela de mãezinha... todo mundo achava bonitinho mas eu chamava naturalmente mesmo...devia ter uns 7 anos de idade. Eu tive problemas na escola e ela prometeu comprar uma máquina de escrever pra mim e foi incrível quando olhei para a máquina... era linda, quando fechava virava uma maleta marrom, e eu coloquei na cabeça que ia ser escritora. Se fechar meus olhos agora consigo ver minha máquina de escrever.

Ela me comprou um caderninho de recordação, para meus amiguinhos escreverem pra mim, era lindo, cor de rosa... até hoje eu tenho algumas páginas, em uma delas tem uma frase que sempre me tocou “ O essencial é invisível aos olhos” . Ela comprava adesivos para eu colocar na minha pasta de papel de cartas, comprava os papéis de carta mais bonitos, a pasta era um orgulho pra mim. Mesmo com pouco dinheiro ela sempre dava um jeito de me deixar bonita, na festa de dia das mães, na coroação de Maria... o meu vestido era o mais lindo, me senti uma princesa.

Minha mãe me ensinou a não ter preconceitos, a encarar a vida sem medos, a ser forte sem ser cruel... Quando cresci ela era minha amiga, saíamos juntas, me ensinou a dançar, a conversar, a ser desinibida, a fazer amizades. Conseguiu meu primeiro emprego, conheceu meu primeiro namorado. Foi a organizadora e a responsável direta pelo meu casamento, estava em tudo, comprou tudo, apoiou e fez com que o sonho se realizasse... de vestido de noiva eu me casei, em uma linda festa... tudo pelas mãos de minha mãe...

Ela estava lá quando minhas filhas nasceram, tão emocionada quanto eu, estava lá quando comprei minha casa, estava lá quando as coisas ficaram difíceis e quando tudo ficou mais fácil. Sempre comigo, ao meu lado, pertinho mesmo... sem perder um só instante de todas as minhas conquistas... Mesmo quando eu não via e não percebia, ainda assim ela estava lá... hoje eu sei.

Agente briga as vezes, discute, bate o telefone... mas quando me sinto sozinha, com medo, assustada ou perdida é pra ela que eu telefono. Nem sempre concordo com o que me fala mas depois de um tempo sempre acabo seguindo seus conselhos, mesmo sem nunca admitir pra ela... Somos diferentes em muitas coisas, seguimos direções diferentes em muitos momentos, mas nunca passamos mais de 2 dias sem se falar... nunca.

Ela é forte, é bonita, é inteligente, esperta, bem humorada, exagerada em tudo, é lutadora, guerreira, encara qualquer um de frente... Minha mãe está sempre sorrindo, sempre fazendo uma piada, contando uma história... Não tem como não se sentir a vontade perto dela.

É a melhor avó do mundo, cuida de minhas filhas com tanto amor e dedicação que não tem como escrever, é presente em todos os momentos da vidinha delas, faz com que tudo fique bonito para minhas pequenas... sempre com um mimo para tirar um sorriso do rostinho das duas... Ela até exagera e as vezes fico brava, mas me dá uma segurança enorme ter a certeza de todo esse amor...
Minha mãe vai vencer essa batalha contra o Câncer, ela vai lutar e vai levar todos com ela nessa luta, sairemos disso mais fortes, mais sábios, mais humanos... É bem a cara dela fazer isso... mesmo doente... é a cara dela ter sempre que ensinar alguma coisa pra gente, não poderia ser diferente.

Minha mãe me apresentou um mundo diferente agora, ela me tirou aqui do meu cantinho e me mostrou que somos tão pequenos, tão impotentes... jamais serei a mesma depois disso, todos os problemas somem quando abrimos nossos olhos e saímos do nosso egoísmo, do nosso mundo tão limitado. É o tipo de coisa que somente minha mãe poderia me ensinar.

Mas o mais importante que minha mãe me ensinou com essa doença é a ter fé, a crer verdadeiramente em Deus, a levantar minhas mãos e pedir do fundo de meu coração, como nunca havia feito antes. Acho que talvez, esse seja realmente a maior lição que ela poderia me dar... me ensinar essa fé para que um dia eu possa ensinar para minhas filhas. Porque no final isso é tudo o que realmente importa.

E é com toda essa fé que eu imploro humildemente de todo meu coração a Deus, a Jesus, a Nossa Senhora, a todos amigos espirituais, a todos os Santinhos e anjinhos do céu... intercedam pela minha mãe, permitam que ela alcance a graça de se curar dessa doença tão cruel... De todo meu coração eu envio minha oração aos céus e confio que o melhor será feito por minha mãe, hoje e sempre.

Acho que no decorrer de minha vida eu perdi muitas oportunidades de dizer obrigada a minha mãe, a dizer o quanto a amo. Agente demora pra perceber as coisas que realmente importam nessa vida. Temos pressa de crescer, de casar, de ter filhos, de ter casa, sucesso profissional e vamos deixando coisas importantes pra depois... É natural no ser humano achar que tudo é eterno e que pode ficar pra mais tarde. Agradeço a Deus por ter percebido isso e por ter a chance de dizer a minha mãe o quanto ela é importante pra mim.

Algum dia, em algum momento tudo isso terá passado, sairemos disso mais unidas do que nunca, mais amigas, mais cúmplices, mais companheiras e terá valido a pena viver toda essa dor, todo esse medo, toda essa angustia...

Essa carta é para minha mãe Marisa Margarida do Valle, para minhas filhas Eduarda e Carolina no futuro, para todos que nos conhecem ... é um testemunho de amor, de fé, de gratidão... E minhas filhas ainda vão ler esse texto para a vovó e todos iremos lembrar desses tempos difíceis e de como conseguimos vencer juntos, com muito amor e com muita fé.

Te amo mãe.
Beijos

Paula